SONHOS CONSTRUÍDOS

Lendo um livro sobre o olhar do arquiteto Mexicano,  Ricardo Legorreta, senti uma forte identificação e inspiração. Com toda certeza, esse foi um Arquiteto que materializou e construíu verdadeiramente os sonhos de muitas pessoas fazendo o que acredito ser a verdadeira e boa  Arquitetura. 

A primeira frase que me despertou mais atenção, foi a critica dele sobre a repetição de modelos arquitetônicos, que hoje é tido como um tipo de negócio bastante lucrativo para alguns escritórios de arquitetura. O mais comum hoje em dia, é a pessoa procurar um escritório que tenha um estilo atraente para fazer a sua casa e esse Mexicano exemplifica muito bem em seu livro, de que Arquitetura pode ser muito mais e muito melhor.

Para ele, repetir um padrão pode gerar algo belo, mas que se não fizer sentido para quem usa, é apenas uma bonita imposição. Tive esse pensamento estampado na capa do nosso site por um tempo, pois é exatamente o que eu penso.

Ricardo Legorreta foi um arquiteto verdadeiramente autêntico, que se preocupou amplamente com os impactos que suas obras causariam no entorno, que seguiu todos os seus valores, não levando em consideração o que seria mais valorizado comercialmente ou o que poderia virar pauta para revistas especializadas. Foi fiel ao conceito de que arquitetura é a expressão de uma cultura e que não deve ser apenas um monumento e sim um ato de serviço aos usuários. 

O seu grande desafio foi não se deixar seduzir pelas soluções da moda, que sempre foram mais facilmente aceitáveis, mas sim construir para cada cliente, mantendo em vista o local em que se erguia a construção. Foi bastante inovador e ao mesmo tempo, sabia muito bem preservar o vínculo das suas obras com a cultura e origem de onde estariam inseridos.

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Meu maior objetivo em qualquer projeto do escritório é trazer boas sensações, por isso o trabalho de Legorreta é muito inspirador, pois ele foi um grande mestre nisso.

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Para ele luxo era ter o espaço, fosse grande ou pequeno, ele conseguia criar atmosferas de intimidade em ambientes grandes. Assim como provocava sensações de amplitude e arejamento em locais pequenos. Ele brincava muito com luz e sombra e acreditava que luz é essencial para manter a alegria nos espaços. Concordo muito!

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Usou as cores de uma forma muito particular, sempre preocupado em atender ao gosto de seus moradores e contextualizar dentro das referencias culturais do local onde seriam construídas. Não criava um projeto para utilizar determinado material, acreditava que a tecnologia deve estar a serviço da arquitetura e não o contrário.

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A definição de boa arquitetura, para Legorreta, não é algo explicável, pois as sensações não são compreendidas racionalmente. Existem sutilezas que escapam à linguagem, mas que aguçam os sentimentos. Muitas vezes o leigo não sabe porquê o ambiente é tão agradável. 

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O importante é se abrir para sentir e conseguir usufruir da arquitetura para poder descobrir o que ela pode lhe dar: um prazer descompromissado, uma alegria, um tipo de felicidade.

Acredito que a referência mais rica que Ricardo Legorreta cita, como modelo para seu aprendizado como arquiteto, foi a de que ele sempre teve muito interesse em passear por vilarejos no México, só que não eram as calçadas que o atraia, mas sim as casas simples e coloridas, quase sempre erguidas pelos próprio moradores de acordo apenas com suas vontades e necessidades. Ele conta, que sem treino formal, esses  construtores criam espaços humanos e agradáveis. Um dos exemplos que ele gosta, é de que um homem lhe explicou por que abrir uma janela em determinado local: "por aqui entra o sol no hora que tomo café". 

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Essa liberdade com que o morador interfere na Arquitetura e o descompromisso com regras formalmente estabelecidas, resulta em algo prazeroso de viver, sem preocupação de agradar e vinculado unicamente a busca do bem estar que é único e pessoal.

Para ele como para mim, não existem proibições ou regras absolutas na busca de despertar a alegria em cada canto projetado. “…cantos tristes não devem existir nunca, nem na arquitetura, nem na vida.” Ricardo Legorreta.

Arquitetura é humana, tem que ser agradável e cheia de vida, precisa fazer sentido para quem ali viverá! Ricardo Legorreta levou isso muito a sério, deixando um grande legado para todos nós. 

 

Inspiração - livro Ricardo Legorreta - Sonhos Construídos. Educação do olhar